| Jornal online - Registo ERC nº 125301



É urgente reciclar!…
Publicado sexta-feira, 7 de janeiro de 2005 | Por: Notícias do Nordeste

A Lei de Bases do Ambiente nº11/87 introduz, preto no branco, o princípio da responsabilidade do produtor pelos resíduos que produz – princípio esse conforme a Legislação Comunitária.
Segundo a “Agência Europeia do Ambiente, os resíduos representam uma enorme perda de recursos, tanto sob a forma de materiais, como sob a forma de energia”, a nossa esperança é que à parte as questões de sensibilidade ecológica, pelo menos o anunciado desperdício financeiro associado, consiga sensibilizar os engenheiros de produção nas unidades industriais, despertar o espírito empreendedor dos industriais e sensibilizar o comum dos cidadãos (Isto, afinal, é connosco).
Ao nível da União Europeia, a base da política de resíduos está numa Resolução do Conselho de Ministros do Ambiente e numa directiva-quadro (75/442/CE), alterada pela directiva 91/156/CE), que fixam alguns princípios fundamentais, entre eles a hierarquia que deve ser dada à gestão do lixo: primeiro, prevenir a sua produção; segundo, reutilizar e reciclar o que for possível; terceiro, utilizar os resíduos como fonte de energia, através da incineração; e, como última opção, enviar para aterro.
Portugal tem, desde Julho de 1997, um Plano Estratégico de Resíduos Sólidos Urbanos (PERSU) que, a par da legislação, constituiu um dos principais instrumentos de planeamento do sector. Nos últimos anos, ocorreu uma progressiva desactivação e encerramento das 300 lixeiras existentes, adequação da rede de infra-estruturas de eliminação e aumento da valorização. Construíram-se 37 novos aterros sanitários, entraram em funcionamento três incineradores de lixos urbanos (na região metropolitano de Porto, Lisboa e Madeira), oito unidades de valorização orgânica do lixo, através de compostagem, e uma através de digestão anaeróbia. Essas infra-estruturas são compartilhadas por diversos concelhos, agrupadas em sistemas intermunicipais ou sistemas multimunicipais.
A filosofia que inspira a política dos resíduos constante da legislação nacional e dos documentos estratégicos é conhecida resumidamente pela política dos 3R´s que significam a redução, a reutilização e a reciclagem. Esmiucemos, um pouco, os significados e as acções associados a estes conceitos.
A redução
Provém da necessidade de diminuir a quantidade de resíduos efectiva, de modo a poupar os recursos da Terra (materiais e energéticos) e evitar que os aterros, cuja localização é muitas vezes polémica, não fiquem rapidamente completos.
Não há dúvidas que quanto mais resíduos, mais desperdício. Não há dúvidas que a produção de lixo continua a aumentar como consequência de um consumismo desenfreado. Em 2000, segundo dados do Instituto Nacional de Resíduos (INR), em Portugal a capitação média foi de 1 kg/hab.dia . E segundo a Agência Europeia de Ambiente, entre 1999 e 1995, a totalidade dos resíduos produzidos na Europa aumentou 10%, enquanto o produto interno bruto aumentou 6,5%. O ideal seria ao contrário, ou seja, que para produzir a mesma riqueza, a sociedade deitasse fora menos desperdícios. Com travar este crescimento exponencial? A resposta faz-se a dois níveis: ao nível da aplicação nas unidades industriais, produtoras de resíduos industriais, das melhores tecnologias disponíveis (BAT) com vista à redução da quantidade e perigosidade dos resíduos, acompanhada do conceito da bolsa de resíduos – o que é resíduo numa indústria pode ser matéria-prima noutra, e ao nível do cidadão comum, produtor dos chamados RSU (Resíduos Sólidos Urbanos) - e neste barco estamos todos - é importante a mudança de gestos quotidianos e a adopção de novas práticas, tais como, por exemplo: comprar recargas, em vez de embalagens novas; adquirir embalagens de tamanho familiar, em vez de várias pequenas; utilizar velhos papéis para rascunho; utilizar guardanapos, toalhas e guardanapos de pano em vez de papel; usar garrafas com tara retornável…
A reutilização
Contribui também para a redução de resíduos e consiste em utilizar um produto, mais do que uma vez, não necessariamente para o mesmo fim para o qual foi concebido, alguns exemplos: usar a nossa imaginação e dar outras aplicações a embalagens, caixas; restaurar móveis antigos; utilizar pilhas recarregáveis.
A reciclagem
É o resultado de uma série de actividades através das quais os resíduos são processados para serem usados como matéria-prima na manufactura de novos produtos. De uma maneira geral, a reciclagem dos materiais, para além de poupar os recursos naturais também é mais económica, dado que as matérias-primas que provêm da reciclagem já estão parcialmente processadas e requerem portanto, menores consumos energéticos. Regista-se, então, uma dupla vantagem, com benefícios ambientais e económicos. As directivas comunitárias e as leis nacionais fixam metas obrigatórias para a reciclagem de resíduos com sistemas integrados de gestão, tais como: as embalagens, as pilhas, os pneus, os óleos usados, os equipamentos eléctricos e electrónicos e os veículos em fim de vida.
A directiva comunitária (94/62/CEE) e o Decreto-Lei nº 366-A/97 estabelecem que, em 2005, 25% das embalagens (pacotes de leite, garrafas de refrigerantes, sacos plásticos, embalagens de iogurte…) devem ser recolhidas e recicladas. O PERSU, mais ambicioso, colocou a fasquia ainda mais alto, para 2005, separação e reciclagem de 25% do lixo. No entanto, em 2001, em Portugal, apenas 6% do lixo era reciclado. O Decreto-Lei nº 152/2002 que transpõe a directiva (1999/31/CE), impõe metas quantitativas para a redução de deposição em aterro de RUB (Resíduos Urbanos Biodegradáveis) a alcançar faseadamente em 2006, 2009 e 2016. Ou seja, os resíduos deverão ser separados de tudo o que se degrada naturalmente (restos de comida, plantas, papeis, etc.), estes últimos deverão ser valorizados através da compostagem ou da incineração.

Toda esta legislação impõe e incentiva a reciclagem dos resíduos. Então, mãos à obra!
É necessária a separação dos resíduos na fonte, ou seja, no café, na fábrica, no estabelecimento comercial, nas escolas e em nossa casa. Salienta-se aqui o importantíssimo papel e a responsabilidade daqueles que, na sua actividade lidam diariamente com a produção de elevadas quantidades de resíduos recicláveis (papel, vidro, plástico, metal), como: os estabelecimentos comerciais, cafés, restaurantes, etc., estes podem prestar um excelente exemplo, às gerações mais novas, separando os seus resíduos e encaminhando-os para o ecoponto ou para o ecocentro, consoante as dimensões dos mesmos. Analisemos, por exemplo, as vantagens da reciclagem para o plástico: os plásticos são derivados do petróleo, um recurso finito e cuja exploração tem impactes ambientais significativos. Para além disso, não se degradam naturalmente, por isso ocupam cada vez mais espaço nos aterros sanitários. Por outro lado, se forem queimados sem controlo, provocam problemas de poluição. Reciclá-los é, portanto, uma excelente solução. Mas para que um saco de plástico seja reciclado, é preciso que o cidadão na sua casa, não o misture no resto do lixo e que o leve para o ecoponto amarelo. Depois é necessário que todo o restante circuito funcione: que alguém recolha o conteúdo do contentor e o encaminhe para uma estação de triagem: que aí o saco plástico seja adicionado a outros plásticos do mesmo tipo e, por último, que uma entidade retomadora o incorpore no fabrico de um novo produto. Um longo processo. E, se na sua fase de implementação nem sempre correu bem, agora os circuitos estão instalados e a funcionar em pleno, portanto não há motivos para alimentar a nossa “preguiça” com desculpas infundadas: ” Eles depois juntam tudo, portanto não vale a pena”. Vale a pena, vale.
Combater velhos hábitos
Em casa, é importante que os mais pequenos, na continuidade do trabalho notável que os educadores promovem na sala de aula, participem na separação dos lixos e no seu correcto encaminhamento, de modo que encarem esse processo como uma operação de rotina. Mas é importante também, que lhes proporcionemos alguma coerência de atitudes, isto é: que depois não vejam o contentor do lixo repleto de cartão ou de plástico, inutilizados por estar misturado com os restantes lixos domésticos, colocado por alguém pouco informado ou que “não está para se chatear”. (Isto acontece, infelizmente). É que pode esmorecer o entusiasmo com que aderem às causas ambientais nas escolas. É primordial que consigamos passar, às gerações mais novas, com clareza, a mensagem da necessidade de tomarmos conta da nossa Terra, à escala da nossa rua, da nossa aldeia, da nossa cidade. Para que esse esforço, se reverta globalmente, no cuidar da Terra como um todo. Tal só é possível, se a informação for veiculada através das escolas, da família, etc., mas sobretudo, através do exemplo. Aqui, é que está o problema…O homem é um animal de hábitos, alguns ultrapassados, e se nem todas as novidades ou modernices são válidas, também nem todos os gestos a que nos habituamos devem ser perpetuados. Se há vantagens em separar o lixo, deixemos de lado o “velho balde”. É que corremos o risco de as gerações vindouras nos apontarem o dedo, por não termos feitos nada.
Estímulos Numéricos
Uma tonelada de papel reciclado evita o corte de 15 a 20 árvores, economiza, em média, a energia equivalente a 2,5 barris de petróleo, ou seja, a 66% da energia, reduz em 74% a contaminação atmosférica e economiza 35% da água. Vale ou não a pena arranjar um cantinho para os jornais e cartão? (www.ecopagina.home.sapo.pt) Até nos sentimos outros em saber “que nós também cuidamos da Terra”…Qual Prozac, qual quê?
Mais estímulos: a energia poupada pela reciclagem de uma garrafa de vidro de litro é suficiente para manter acesa uma lâmpada de 100 watts durante 4 horas.
Cada tonelada de aço reciclado permite economizar 1,5 toneladas de minerais de ferro, 70% de energia e 40% no consumo da água em relação à mesma quantidade de aço novo.
E, por último, para não cansar… o alumínio obtido a partir de embalagens usadas consome apenas 5% da energia necessária relativamente à produção de alumínio, a partir de matérias-primas minerais.
O caso gritante do lixo abandonado
O lixo abandonado cria impacte visual, aborrece, choca. Cada vez mais, os mais pequenos, dado o esforço dos educadores, estão mais sensibilizados e apontam-nos o dedo: “Isso não se faz” - dizem com o olhar triste, ao passar por um monte de entulhos à beira da estrada, uma lixeira no monte, um colchão abandonado a decorar um pinhal….
O lixo abandonado pode provocar casos sérios de poluição, como no caso das pilhas, dos óleos usados (de origem alimentar ou mineral), entre outros, contaminam gravemente os solos e as águas. São recicláveis e devem ser encaminhados para o Ecocentro.
Como é que os mais jovens aprendem a valorizar o nosso país, a nossa terra e a reconhecer as suas potencialidades naturais e turísticas, se os mais velhos, quando usufruem os espaços públicos e naturais não têm o cuidado de levar um saco plástico para trazer os lixos que venham a fazer? É evidente que não pode existir um contentor do lixo em cada esquina. Quando ainda estamos a anos-luz dos países escandinavos, em matéria de civismo (nem digo de cuidados ambientais)? São práticas ainda correntes cuspir no chão, não recolher os excrementos dos animais, deitar lixos pelas janelas dos carros, despejar monstros domésticos pelas “ribanceiras”? Por vezes, agimos como se isto fosse “dos outros”, como se estivéssemos simplesmente a sujar a casa alheia…e a assobiar para o ar.
Refira-se também o conselho cívico expresso no código de Comportamento do Caçador: “ …recolha os cartuchos vazios” . Quem não encontra, num passeio ao monte, cartuchos vazios?
Soluções Caseiras
A compostagem é um processo natural de transformação do lixo orgânico - como restos de comida e aparas de jardins, restos de frutos em composto, num excelente adubo natural. A compostagem pode processar-se numa escala industrial ou no nosso quintal.
Reduz o lixo que vai para aterro e valoriza-o, transformando-o num fertilizante natural. Pode aconselhar-se junto das associações agrícolas locais ou em
www.quintadaformiga.com, entre muitos outros sites.
A utilização intensiva dos pesticidas e herbicidas conduz a uma progressiva acumulação destes nos organismos vivos. Os técnicos sugerem, por esse motivo, prudência na sua aplicação e a sua substituição por técnicas alternativas como a agricultura biológica.
Eugénia Gonçalo



Facebook
Twitter
Technorati
Linked in
Stumbleupon
Digg it
Email
Newsvine
del.icio.us
YouTube
Reddit
Print Friendly and PDF

Comentários:

Enviar um comentário




Mais Notícias

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...
PUBLICIDADE


Receba actualizações por e-mail

Digite aqui o seu e-mail e preencha o campo do formulário para solicitar a inscrição

Arquivo

Arquivo geral de notícias publicadas no Jornal de Arqueologia.Verifique toda a nossa actividade editorial, consultando tudo o que foi publicado no site em cada dia, em cada mês ou em cada ano.

Consultar Arquivo | Fechar Arquivo